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Soja vive crise histórica nos EUA sem a China. Saiba como fica o mapa do grão no mundo

7 de outubro de 2025 Agronegócio

Perda do mercado chinês resultou em margem de retorno negativa recorde por hectare para o produtor dos EUA em três anos consecutivos, segundo Carlos Cogo

A guerra comercial entre Estados Unidos e China se consolidou como o fator mais determinante para o mercado global de soja, reescrevendo a dinâmica de lucros e perdas no agronegócio mundial.

Em entrevista exclusiva à Forbes Agro, o consultor em Agronegócios Carlos Cogo detalhou a situação financeira crítica do produtor americano e a vulnerabilidade da safra dos EUA, contrastando com o inédito “amortecimento” de prêmios que tem garantido a margem do produtor brasileiro.

A manobra chinesa, descrita por Cogo como uma estratégia de “esticar a corda” para forçar a negociação, fez com que a China conseguisse se abastecer 100% fora dos Estados Unidos, consolidando o Brasil como o fornecedor preferencial.

Crise americana: margem negativa recorde de US$ 177

Carlos Cogo

Carlos Cogo, consultor em Agronegócios

A situação financeira do produtor de soja nos Estados Unidos é a mais grave na série histórica e está diretamente ligada à perda de seu principal comprador, a China.

“O recorde histórico deles: 177 dólares negativos de margem de retorno para o fazendeiro (Farmer Return). Essa margem é a mais negativa da série histórica. Tiveram uma sequência de três anos de margem negativa,” destaca Cogo.

 

O setor já operava sob pressão de um ciclo de baixa global, mas a perda repentina do mercado chinês agravou a crise. A consequência de longo prazo é uma mudança estrutural na produção americana.

Com o acúmulo de safra não vendida, problemas de armazenagem já são relatados, forçando o produtor a optar por culturas mais rentáveis, como o milho.

Safra americana de soja deve encolher ainda mais

colheita de soja

NicholasSmith/gettyimages
Máquina em operação de colheita nos Estados Unidos

A tendência, segundo o consultor, é de a área plantada de soja nos EUA “encolher cada vez mais” até se adequar ao consumo interno, com uma redução de 6% na área já registrada em um ano.

A projeção mais recente para a safra mundial de soja na temporada 2025/26, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês), é que sejam colhidas 425,87 milhões de toneladas.

O Brasil é o líder e deve responder por 41% deste total com 175 milhões de toneladas. Os Estados Unidos vêm em segundo lugar com 117 milhões, seguido pela Argentina, com 48,5 milhões, pela China, com 21 milhões, e pelo Paraguai, com 11 milhões de toneladas.

O domínio brasileiro e os prêmios que salvam a safra

soja produtor brasileiro

Igor Alecsander/Gettyimages
Produtor brasileiro observando a lavoura de soja

A ausência da soja americana resultou em uma elevação inédita da demanda pelo produto brasileiro, traduzida em prêmios portuários recordes. Estes prêmios foram o fator determinante para manter a rentabilidade no Brasil.

“O prêmio [no Brasil] é muito alto, não é ágil, é muito alto. […] Só agregou o valor tal na soja brasileira, que ela saiu de uma linha de seria um prejuízo no ano… para uma margem de lucro pequena,” explica Cogo.

O consultor confirma o domínio do Brasil com números históricos: de janeiro a agosto, o país exportou 65,9 milhões de toneladas de soja para a China, um nível absoluto nunca antes visto, que representa 76,2% de todas as exportações brasileiras de soja em grãos.

O dilema do hedge: risco de perda de R$ 12 por saca
Apesar de a geopolítica ter criado uma “demanda adicional da China” que salvou a comercialização brasileira, o consultor critica a falta de estratégia do produtor nacional em garantir esses ganhos futuros.

Cogo considera o acordo EUA-China inevitável. Contudo, o retorno dos americanos ao mercado derrubaria os prêmios brasileiros, esvaindo a compensação que o produtor está recebendo hoje.

“O brasileiro não está aproveitando esse preço futuro mais alto para se proteger e fazer negócio antecipado. […] Com 22% hedgeado, ou seja, com quase com 80% da safra aberta. O produtor… Não está aproveitando o fato.”

A perda média projetada para o produtor brasileiro, caso não faça a proteção de preço (hedge), é de R$ 10,00 a R$ 12,00 por saca.

Guerra comercial abrange mais que soja
Cogo ressalta que o impacto da guerra comercial não se restringe à soja, mas abrange diversas commodities, criando oportunidades para a agropecuária brasileira em outros segmentos.

“Não é só soja. […] [Os EUA] está perdendo o [mercado de] algodão. O sorgo, a China está vindo no mercado para o Brasil. Está prestes a perder o mercado de sorgo também, que era um mercado grande que eles tinham de carne. Já perdeu para o Brasil há muito tempo, carne bovina, carne suína.”

O cenário confirma o papel da geopolítica como vetor de risco e oportunidade, exigindo do produtor brasileiro maior atenção à proteção de preço para sustentar a rentabilidade garantida pela demanda chinesa.

Fonte: Forbes.com.br

https://forbes.com.br/forbesagro/2025/10/soja-vive-crise-historica-nos-eua-sem-a-china-saiba-fica-o-mapa-do-grao-no-mundo/

 

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