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Por que o milho brasileiro perdeu competitividade no mercado internacional?

30 de setembro de 2025 Agronegócio

Apesar de superarem 2024 nos últimos meses, exportações seguem abaixo do necessário para equilibrar a safra recorde brasileira

“O mercado de milho brasileiro segue uma dinâmica muito clara, 70% ficam dentro do país e 30% vão embora, é o excedente produtivo que temos. Então, é realmente necessário que haja uma exportação, que esse milho vá embora para que o preço possa se valorizar e esse excedente não fique aqui dentro. Porém, é justamente o contrário que está acontecendo hoje. Infelizmente o milho brasileiro acaba tendo pouca competitividade no cenário internacional e isso, pensando a médio e longo prazo, acaba inviabilizando negociações e dificultando altas mais acentuadas”, destaca João Vitor Bastos, analista de mercado da Pátria Agronegócio.

De janeiro até setembro de 2025, o Brasil exportou cerca de 24 milhões de toneladas de milho. Em todo 2024, as exportações brasileiras de milho contabilizaram 37 milhões de toneladas. Já em 2023, ano que o país se tornou o maior exportador de milho do mundo, foram 56 milhões de toneladas embarcadas.

“Frente a essas 24 milhões que temos até agora, a gente tem um atraso nessas exportações. Isso deixa o setor preocupado", afirma Bastos.

Apesar de superar os índices embarcados em 2024 nos últimos meses, o volume de 2025 ainda está aquém do necessário. Na visão de lideranças do setor, este cenário se deve a uma combinação de fatores que prejudicam a competitividade do cereal brasileiro no mercado internacional.

“A gente depende de algumas condições quando a gente fala de exportação. Por exemplo, taxa de câmbio, preço internacional e eficiência da nossa logística, que é o grande gargalo hoje. Nós não temos uma logística eficiente no setor de grãos, a começar pela falta de armazenagem, que esse ano bate mais uma vez o recorde de mais de 130 milhões de toneladas de déficit, e passa também por rodovias, ferrovias, portos e hidrovias que são insuficientes ou ineficientes para dar competitividade àquilo que o agricultor faz bem. Além disso, os canais de exportação estavam direcionados basicamente para soja, que também teve uma grande safra, o que deixa o milho em uma segunda prioridade”, avalia Paulo Bertolini, presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo).

“O fator principal é o frete. Hoje o custo de você pegar um milho do Mato Grosso ou em Goiás e mandá-lo para o Porto de Santos é muito alto. Esse preço não é competitivo com o milho norte-americano, que tem produção muito robusta, muito volumosa e a questão logística é mais fácil, a rota é toda mais simplificada. Infelizmente hoje não temos competitividade. O milho brasileiro hoje é muito barato para quem vende, mas acaba sendo caro para quem compra”, diz Bastos.

Outro fator a ser considerado, segundo João Vitor Bastos, é o crescimento da demanda no mercado interno brasileiro, que acaba competindo e tirando espaço das exportações. “Ano passado nossa demanda interna era de 82 milhões de toneladas, hoje é de 91. Fatores que auxiliam muito isso são o etanol, as usinas de etanol estão requerendo esse milho, além do milho destinado à produção de ração. Então, o mercado interno brasileiro acaba trazendo uma competitividade com o milho a ser exportado, ele acaba pagando mais por esse milho, porque se fosse depender desse milho para ser exportado, realmente o preço estaria muito pior”.

Na visão do analista de mercado da Pátria Agronegócio, o grande risco deste cenário é uma movimentação atípica dos preços no Brasil, com o milho caindo de patamares na virada do ano, momento em que, sazonalmente, as cotações tendem a subir.

“Como os preços não caíram tanto quanto era esperado durante a colheita, acaba que isso inviabilizou essa exportação. Se essa exportação não ganha ritmo, esses 30% excedente produzido aqui dentro do Brasil não vão embora e impedem essas altas no final do ano. Se esse mercado continuar nessa lateralização e a gente não conseguir trazer essa exportação de uma forma mais consistente para mandar parte desse milho embora, dificilmente teremos uma valorização expressiva ao final do ano”, diz.

"Os preços do milho no mercado futuro não sinalizam uma recomposição. Então, nós teremos possivelmente uma redução de margem. Isso de fato é bastante preocupante para nós”, lamenta Bertolini.

Apesar deste quadro ruim, ainda existem oportunidades para ampliar as exportações e agregar valor à produção. O presidente da Abramilho destaca que novas rotas de exportação estão sendo criadas, o que pode desafogar os problemas logísticos.

“Hoje são em torno de 140 milhões de toneladas, mas nós temos um potencial muito maior para produção de milho no Brasil e na esteira do milho vem o sorgo também, que é importante a gente salientar. A abertura do Arco Norte traz novas opções de rotas e possibilita a exportação dessa produção bastante grande lá no Centro-Oeste, Norte e Nordeste brasileiro”, aponta a liderança.

Além disso, a diversificação de mercados consumidores também é um caminho para ampliar a demanda externa pelo cereal brasileiro. “Estamos vendendo milho para Europa. A Espanha esse ano está comprando um pouco mais de milho nos últimos meses. Temos também Oriente Médio, tradicional cliente nosso. São vários países do Oriente Médio, Irã, a África, ou no caso o Egito tem comprado bastante. A Ásia, embora a China decepcionou um pouco o mercado de milho nosso esse ano, mas Vietnã, por exemplo, é um país que compra bastante milho do Brasil, Taiwan, Bangladesh, Japão, enfim, nós temos uma carteira bastante diversificada”, afirma Bertolini.

Outro caminho apontado é a exploração de subprodutos do milho, que ampliam a possibilidade de negócios e podem trazer mais liquidez aos produtores brasileiros.

“Estamos ainda só na ponta do iceberg das possibilidades da indústria do milho. Hoje fazemos etanol, DDG e alguns coprodutos, mas há uma infinidade enorme como plásticos biodegradáveis, matéria-prima para papel, cosméticos, remédios, óleos, meios de fermentação, aminoácidos e enzimas, todos com possibilidade enorme de agregação de valor. Logicamente isso demanda investimentos na indústria brasileira, depende de os empresários acreditarem no país. Os produtores já mostraram que são capazes de produzir de forma sustentável e com qualidade, tanto que mais de 100 países consomem nosso milho, sempre fresco, de três safras, e produzido com sustentabilidade ambiental, social e econômica. O Brasil já é extremamente relevante na cultura do milho e será também no sorgo. Hoje exportamos pouco sorgo, boa parte sai por caminhões para Bolívia e Paraguai. O porto de Imbituba iniciou exportações pequenas por navio. A China está interessada em investir e originar sorgo no Brasil. Em breve o Brasil terá relevância mundial também nessa cultura”, finaliza o presidente da Abramilho.

Fonte: Notícias Agrícolas

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